
Muitos de vocês já devem ter visto o trabalho de João Roberto Ripper. Para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade, conto aqui um pouco da sua história e como eu conheci esse fotógrafo fantástico.
Carioca e um dos sete filhos de seu Thomaz e dona Dinah, Ripper iniciou sua carreira como fotojornalista aos 19 anos. Após passar por diversas redações e cansado da política editorial dos grandes jornais, ele se filiou na década de 80 à agência fotográfica independente F4, com o objetivo de realizar projetos mais autorais.
Em 1991, com a experiência acumulada, Ripper se desligou da agência e fundou o centro de documentação Imagens da Terra, conhecido por reunir fotógrafos com clara preocupação social. A partir daí, passou a percorrer o Brasil documentando a vida e o trabalho das ligas camponesas, povos indígenas, quilombolas e trabalhadores em condições análogas a de escravos.
Sua proposta é colocar a fotografia a serviço dos direitos humanos, divulgando um outro olhar sobre as pessoas e comunidades negligenciadas pelo Estado e esquecidas pelo grande público. Ao mesmo tempo que informa e ensina, o trabalho de João Ripper emociona.
O site Imagens Humanas foi outro projeto criado (2004) em parceria com Ricardo Funari. Trata-se de espaço destinado a expor e comercializar o seu trabalho fotográfico. Paralelamente, Ripper criou a agência-escola Imagens do Povo, que visa formar fotógrafos populares na Favela da Maré, Rio de Janeiro, e inseri-los no mercado de trabalho.
Com um acervo de mais de 150 mil imagens, a maioria delas em preto e branco, o premiado João Roberto Ripper também realizou trabalhos para a Unesco, Unicef, Comissão Pastoral da Terra e diversos jornais internacionais.
Tive contato com a fotografia do Ripper através da minha pesquisa de mestrado sobre trabalho escravo. Sempre que eu lia algum livro do tema, deparava-me com aquelas imagens impactantes e a curiosidade em torno da pessoa responsável por aquelas fotos foi crescendo.
Um dia, resolvi escrever para ele. O que mais me chamou a atenção foi a sua preocupação e comprometimento com o impacto social do seu trabalho. Apesar da rotina intensa de viagens e obrigações domésticas (Ripper tem 5 filhos), as minhas perguntas e dúvidas nunca ficaram sem respostas.
O João foi um dos primeiros fotógrafos a registrar o trabalho escravo no campo, na época em que os casos de violência física e cerceamento da liberdade dos trabalhadores rurais eram a regra. E, para ter acesso a tais pessoas, algumas vezes, ele fotografou sem a proteção dos grupos móveis de fiscalização (MTE), o que acabou lhe rendendo ameaças, agressões e até prisão.
Foi essa vivência, que não é contada nos livros acadêmicos, que me levou a conhecê-lo e entrevistá-lo. Somente pessoas como o Ripper, que estiveram em contato direto com as vítimas, conseguem explicar o quão grave e indigna é a situação dos trabalhadores escravizados.
É por isso que faço questão de divulgar o seu importante trabalho. Sem dúvida alguma, o João Roberto é uma das gratas surpresas que a vida me proporcionou. Ver as suas fotografias é descobrir um Brasil ainda invisível para muitas pessoas.